Coloquei o “equipamento” e lá fomos.
20 minutos de estrada pelo asfalto gigante e silencioso de Tóquio.
A caminho do estádio olímpico pensei:
E se subisse ao “pódio” da RTP e dissesse que um português tinha feito sorrir milhares!? Milhões!?
Respirei fundo. Fizeram o mesmo o Paulo Maio Gomes. A Fátima Andrade. O Luís Vilar. Uma parte da “nossa” equipa ali tão perto de um momento universal.
Quatro da madrugada em Portugal. 11 da manhã no calor tórrido e húmido do Japão. A sauna estava a ter início. A par da final.
E o Pichardo lá em baixo a soltar as asas e a espantar a concorrência. Que classe.
Caramba. Dois triplos seguidos com a mesma marca. Ali de pé olhava uma e outra vez.
Até parece fácil voar em Tóquio.
O sonho tomava a forma de obra de arte.
17.98. Podem repetir? 17.98!!!!!
Meio dia e 20. Ainda mais calor. E a certeza épica.
Naquele
tartan, naquela manhã, vimos um triplo feito: dois recordes batidos, nacional e melhor marca do ano e, que bom escrevê-lo, o tão desejado OURO.
O meu olhar colou se à bandeira de Portugal.
O Pedro Pablo Pichardo pôs às costas o mapa do nosso orgulho. Todos nós estávamos ali colados a ele.
Sei que naquele instante eu também tinha concretizado um sonho de criança.
Vi o Carlos Lopes na RTP, vi a Rosa Mota no mesmo ecrã, vi a Fernanda Ribeiro, vi o Nelson Évora.
Num relâmpago de uma vida, tinha ali à minha frente o quinto português medalha de ouro. Quinto! Que privilégio. Que honra.
A 6 mil km de distância e colado ao meu ouvido a voz do Manuel Fernandes Silva da régie:
“É ouro João, é nosso!!!”
Na entrevista de uma carreira, tive o atleta mais tranquilo da vida ali à minha frente.
Respondeu a tudo. Também pausadamente. Tal e qual da mesma forma como tinha deixado os adversários a léguas. Sem stresses.
Pena só não ter aquele estádio repleto. Para ouvir os aplausos tão merecidos num dia estratosférico. E Histórico.
Mais tarde a entrega da medalha. Tocou o hino. Que arrepio na espinha. É transcendente.
Na zona mista, a segunda parte do nosso enorme contentamento vinha ao meu encontro.
De Pedro para Pedro disse lhe :
“Mostre nos lá o ouro”.
E ele, esboçando um ligeiro sorriso, como a foto tirada por mim documenta, lá exibiu a medalha na casa de milhões, via RTP.
Saí daquele estádio com o pódio debaixo do braço. E levei os todos comigo:
O Carlos, a Rosa, a Fernanda, o Nélson e agora o Pichardo. 5 grandes nomes!
Já pensaram nos anéis olímpicos? São 5 !
Estes, só nossos, estão entrelaçados no Ouro.
Aconteceu de novo.
E foi, imagine se, num dia 5 em Tóquio.
Uma quinta-feira.